quinta-feira, 30 de outubro de 2008

RESENHA CRÍTICA


O CONCEITO DE VERDADE E SUA UTILIZAÇÃO NO JORNALISMO

Iluska Coutinho

O presente trabalho solicitado pela Prof. Clóris Dorow sobre Enunciação, devendo ser apresentado em forma de resumo, com análise crítica embasada em autor por ela indicado da respectiva disciplina.
Escolhemos tal artigo no site www.metodista.br/unesco/gcsb/index.htm
Cujo tema nos interessa, ou seja, verdade, notícia, enunciação. A autora do trabalho é jornalista, doutora em comunicação Social e Mestre em Comunicação e Cultura.
O trabalho da autora está dividido em quatro partes que são:
O conceito de verdade e sua utilização no Jornalismo
A verdade e as línguas originárias
O problema da verdade e suas concepções na filosofia
A verdade no Jornalismo
O artigo tem como proposta refletir sobre o conceito de verdade através da análise de suas raízes filosóficas com destaque especial sobre a significação da verdade nas línguas originárias o que tem importância extremamente relevante para a qualificação do trabalho jornalístico Estuda as aproximações entre os conceitos de verdade e realidade.
Na primeira parte tenta buscar os diferentes entendimentos e apropriações sobre o que seria de fato a verdade. O conceito de fato está muito relacionado ao de verdade.
Busca como objetivo do trabalho compreender de que forma o conceito de verdade é experimentado pelos jornalistas e como é usado para produzir a notícia.
Na segunda parte conceitua a verdade a partir das suas acepções nas línguas que embasam o pensamento ocidental. Diz sabiamente no seu texto que é indispensável entender a origem dos discursos, as construções históricas que permitem a ocorrência de enunciação [grifo nosso] no tempo presente compreendida como verdadeira como no caso das matérias jornalísticas.
Uma importante constatação da autora:
O uso dos tempos verbais é sinal de diferenciação entre as formas de enunciar a verdade nas L.originárias. Na origem latina verdade é,”Na verdade semântica veritas”, histórica e relacionada ao passado, ou refere-se a um tempo que precede sua construção no momento da enunciação.
Para o grego o significado é “alethéia” cuja significação é desvelamento, conceito que liga ao presente.
Para os hebreus tem o mesmo significado de “emunah” , mesma origem de amém e se dirige a uma noção de porvir.Há diferença no entendimento de verdade para gregos e hebreus. Para os primeiros “um ato de revelar” para os hebreus é desconfianças.
Para a lógica o interesse se prendia na correção e/ou coerência semântica do discurso, da enunciação.
Aborda em outra parte do texto a verdade e suas concepções na filosofia.
Para os filósofos a verdade absoluta é Deus.
O que definiria um enunciado como verdadeiro para alguns é a adequação, para outros a correção e ainda para um terceiro grupo fundado em uma relação nominal.(Hanna Arendt :2000)
Para Ferrater Mora as concepções dependem das concepções das diferentes culturas.

Na concepção moderna desenvolveu-se a concepção idealista. Aconcepção de verdade está ligada a um tempo histórico.Surge a concepção de verdade lógica e gnosiológica. A distinção é o uso do vocábulo em dois sentidos . No primeiro caso se refere a uma proposição e no outro a uma realidade externa a sua enunciação.
No primeiro caso a proposição verdadeira é diferente da falsa,no segundo a realidade verdadeira difere da aparente.
Para Platão a verdade se aplicava primeiro ao objeto, ao sujeito e depois ao enunciado.
Aristóteles diz que a verdade estaria ligada ao ato de dizer. Assim não existiria verdade sem enunciado, mas este não basta a si mesmo como verdade. Pressupõe a existência de uma materialidade exterior ao enunciado, verdadeiro ou não.
Kant diz que verdade é a “verdade do conhecimento”, pra Hegel a idéia é a verdade,não se constituindo nunca na expressão de um fato isolado ,mas sim uma verdade ontológica,indivisível.
Heidegger verdade são respostas que o homem dá ao mundo. Perde o critério de absoluto, indivisível, por isto usa no plural.
Foucault diz ser a verdade a expressão de uma determinada época, portanto, cada qual com sua verdade e seu discurso.
Para Nietzsche não há verdade, tudo é mentira. Verdade se resume a uma busca utilitária.
Aristóteles elaborou dois fundamentos de verdade, o primeiro é de que a verdade estaria no pensamento e na linguagem, o segundo é que a sua verificação é exterior a ela.
O conceito de verdade liga-se a cinco variáveis ou pressupostos:
1- correspondência e concordância;2-revelação ou eficácia;3- conformidade a uma regra ou verificabilidade;4-coerência;5-utilidade ou propriedade física.
A corrente de verdade como revelação tem duas correntes : a empirista e a teológica.
Para Hobbes o conceito de verdade é de natureza semântica.
Na verdade semântica o” ser verdade” e visto como um predicado de certo enunciado ou proposição (predicados metalógicos.A verdade e a falsidade são formais, não dependem do conteúdo. Também é possível ter situações empiricamente verdadeiras mas falsas na concepção lógica. A lógica seria a teoria do pensamento correto.Para os idealistas a verdade é a ausência de contradição, já a gnoseologia é a teoria do pensamento verdadeiro.

A Verdade no Jornalismo
Segundo Lustosa a notícia é o relato, não o fato, o que de acordo com a verdade filosófica a caracterizaria como expressão da verdade e não verdade absoluta.
Na verdade as pautas jornalísticas delimitam e recortam a realidade a se enunciada, além do enunciado ser uma interpretação do fato, que também é carregada de intencionalidade . Por volta dos anos 50 a imparcialidade foi estabelecida como princípio ético. Sodré alertava que “o jornal é menos livre quanto maior for a empresa”, opinião esta corroborada por Elcias Lustosa que diz:” por sua origem e pelos seus defensores a imparcialidade não passava, e não passa , ainda hoje,de mera retórica, sendo usada para preservar discurso e os interesses do próprio veículo.
Alguns editores se referem à verdade como uma abstração.Autores como Japiassu questionam:”Caso existam informações objetivas quem controlará a objetividade destas informações?” Segundo ele não haveria informação e conhecimento isentos de uma intencionalidade.
Conforme Vita “de modo algum deve misturar interpretação subjetiva com descrição do fenômeno.
Embora todas as prescrições e expectativas segundo a autora do texto na prática seria definida como o ideal de Max Weber, isto é como padrão referencial a ser atingido.
Os jornais são tidos apesar da impossibilidade da imparcialidade , como instrumento de descrição da realidade por boa parcela de público o que fornece o status de verdadeiro a seu conteúdo.
Misturam-se , no jornalismo os conceitos de verdade e ética
. No afã diário a verdade poderia ser considerada como fundamento da realidade, com a confirmação ou confirmação dos dados que embasam uma notícia tida como verdadeira ou verídica.
Na filosofia foi Descartes que emitiu o conceito de realidade .As idéias como objeto do pensamento deveriam corresponder ao concreto, não ao ilusório, idéia esta confirmada por Kant.
Ao considerar a verdade jornalística como expressão da realidade ela está sendo alvo de interpretação filosófica que liga a verdade ao “desvelamento” o qual pode estabelecer distorção dos fatos ainda mais pelo fato da produção da notícia , nos tempos atuais , ocorrer em escala industrial, sem a real apuração dos fatos.

Como na maioria das vezes, os repórteres não se encontram nos locais dos fatos os manuais que norteiam as atividades jornalísticas das grandes empresas orientam pela coleta de mais de 02 fontes de informação.Embora todas as orientações ainda saem enunciados que indicam que a fonte não foi encontrada ou tentam apagar as marcas do enunciador para trazer legitimidade e credibilidade ao discurso.
Os críticos como Manuel Chaparro em Pragmática do Jornalismo lamenta a falta de obrigatoriedade da busca da verdade, aliada à supressão de funções que tem de ser abarcadas por outros profissionais que acumulam funções numa tentativa de dar conta do processo industrial de produção. Encontra-se ainda críticas no que tange a perda de valores jornalísticos em função do marketing, da publicidade que sem dúvida limita muito a independência e imparcialidade quando por trás de um fato estão grandes marcas e grandes quantias envolvidas.
Grupo de Jornalistas autodenominado de “Comitê dos Jornalistas Preocupados” realizou 21 discussões e uma pesquisa com 300 jornalistas resultando em uma publicação na qual diz que os próprios jornalistas nunca tiveram uma noção clara do que querem dizer com veracidade. Grande parte dos jornalistas sempre desvalorizou o ensino profissional, ficando as teorias só nas cabeças dos acadêmicos.
Na realidade , a prevalência e observância deveria ser com relação ao artigo sétimo do Código de Ética aprovado em 1987 no Congresso Nacional de Jornalistas que diz que “o compromisso fundamental do jornalista é com a verdade dos fatos, e seu trabalho se pautar pela precisa apuração dos acontecimentos e sua correta divulgação.”



SÍNTESE PESSOAL

Ao ter que escolher um texto sobe enunciação para o presente trabalho escolhemos justamente um texto sobre a atividade jornalística por ser este um assunto que nos interessa e sobre o qual pretendemos realizar nosso trabalho de final de curso.
Apesar da prescrição de objetividade e exatidão como norteadores da atividade jornalística, Benjamin (1983) diz que “informar é abreviar” e Corrêa completa dizendo “é também escolher o que vai ser considerado como excesso”. Ora se existe escolha, existe posicionamento o que por si só já coloca por terra a idéia de objetividade e neutralidade porque vamos encontrar a marca do enunciador no enunciado. Isto vai de encontro a colocação de Benveniste ao dizer “enunciação é a colocação em funcionamento da língua por um ato individual de utilização.”Propõe a marcação da subjetividade na estrutura da língua.
O novo Manual da Redação da Folha de São Paulo traz no verbete objetividade o que se segue: Não existe objetividade em jornalismo. Ao escolher um assunto, redigir um texto e edita-lo, o jornalista toma decisões em larga medida subjetivas, influenciadas por suas posições pessoais, hábitos e emoções. Isto não o exime, porém da obrigação de ser o mais objetivo possível. Para relatar um fato com fidelidade, reproduzir a forma, as circunstâncias e as repercussões, o jornalista precisa encarar o fato com distanciamento e frieza, o que não significa apatia e desinteresse.

O Manual fala ainda na Exatidão como “qualidade essencial do jornalismo”.
Não é possível desconsiderar também a função social do jornalismo e ao mesmo tempo é um produto de consumo inserido em um sistema. Daí não pode-se considerar a transparência da linguagem considerando que ela determina e se encontra em um contexto institucional.Há que se considerar também a carga avaliativa que o jornalista transfere para seus textos.
Não é possível ignorar que a linguagem é constituída por um aspecto material (a língua,) atravessada pela história e pela ideologia e que isto se faz presente na enunciação. Conforme Bakhtin por nós estudado no decorrer das aulas “o ser humano não pode ser concebido fora de suas relações sociais, portanto a linguagem é social. Qualquer situação de comunicação (enunciação) será definida pelas reais condições de enunciação, ou seja, a situação social do momento.”.
Voltando a Benveniste a enunciação é a atividade lingüística daquele que fala no momento que fala. Então é possível identificar em cada enunciado realizado pistas ou marcas lingüísticas, que evidenciam o sujeito, visto que embora se encontre disperso no enunciado, é possível ser identificado.
Os fatos são a matéria prima do jornalismo e descrever um fato com correção e inteligência exige sensibilidade, informação sobre o assunto e conhecimento do idioma conforme Manual da Folha de São Paulo.
Isto nos leva a crer que por mais que o profissional trabalhe com objetividade, clareza, ética e busque revelar a verdade sempre vai ser possível identificar as marcas do enunciador no enunciado. A linguagem não é uma mera ferramenta de trabalho uma vez que possui extrema relevância na construção dos fatos.
Corrêa afirma que os fatos enquanto notícia é uma construção de visões.

Bibliografia:
MAINGUENEAU, Dominique. Termos-Chave da Análise do Discurso,Editora UFMG,2006
KRONKA, Gabriela Zanin. Jornalismo e questões de linguagem: a importância do Jornalista pesquisador, site: www.comciencia.br acessado em 05.03.2008.
Aragão, Verônica Palmira S. PAULIUKONIS, Maria Aparecida. As marcas da enunciação, site: www.filologia.org.br acessado em 11.06.2008.
BARBOSA, Marialva (COORD) GT HISTÓRIA DO JORNALISMO, II Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho, extraído do site www2.metodista.br/unesco acessado em 11.06.2008

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