sexta-feira, 17 de outubro de 2008

ANÁLISE

Da análise dos textos infra referenciados, seguindo a ordem que foram dados e comentados é possível perceber que é importante se perceber o homem, as estruturas e a sociedade como fruto de transformações ao longo dos séculos.
No primeiro texto de TOMAZ, Tadeu ele discorre sobre a obra de DELEUZE para falar sobre criação, experimentação e multiplicidade.
DELEUZE desenvolveu uma filosofia própria que se baseou na concepção de uma diferença pura, da diferença entre si que lhe permitiu “conceber a vida e o mundo como processos de criação do novo constituídos de processos intensivos.(força,fluxos,movimentos,relação entre si) mais do que unidades extensivas (elementos distintos distribuídos no espaço)”. TADEU,2007:9
Ao elaborar o conceito de multiplicidade se contrapõe de maneira própria, peculiar às correntes que invocavam o princípio da homogeneidade, que não deixa de ser um mecanismo limitador,repressor, posto que uniformiza, ignora as diferenças tanto no aspecto formal quanto material.
Ao efetuar a esquizo-análise a partir de seu encontro com Félix Guatarri expõe traços de uma rebeldia diferente , inovadora que vai além da crítica intelectual para intervir no campo político e social.
Isto nos mostra que não é possível analisar situações, fatos,momentos dissociados da realidade, do contexto histórico, de um aprofundamento dos estudos histórico,social,psicológico, cultural.
A lingüística , a psicologia, as artes,a ciência, a filosofia mesmo dentro de seus respectivos campos de estudo ou análise não podem ignorar umas às outras, pois há um entrelaçamento de todas a ponto , inclusive, de emprestarem conceitos , se complementando. O termo esquizo-análise foi emprestado da lingüística e da psiquiatria. .Esquizo significa diferente. É aquele que cria seu próprio “território”, tal como os nômades do texto Poder sobre a vida, potências de vida,que parecem ter sua própria lei, que ninguém entende.
Na medida em que Deleuze não unifica singularidades ou multiplicidades, não homogeneíza.
É uma maneira diferente de conceber o homem no mundo, senão o próprio mundo e de recriá-lo . É uma maneira revolucionária, oposta aos regimes ditatoriais,repressivos, quer sejam fascistas,comunistas ou capitalistas.
Isto se aplica também ou pode ser aplicado no campo do pedagógico deixando espaço para recriar conceitos, formas de aprendizagem na qual não se dissocia o homem, o aluno, ou aprendiz do seu contexto social, pois como diz Ortega Y Gasset, o homem é ele e suas circunstâncias e o que é mais fantástico é que as circunstâncias não são imutáveis, posto que cada um pode modificar as suas, na media em que aprende, cresce, evolui, quebrando o estigma da ignorância, da miséria, (social, intelectual, moral) da estratificação social, criando novos paradigmas. A arte, como expressão é o que torna visível o invisível possibilitando novas visões, novas perspectivas a partir da problematização dos modos de vida. Por isto, na atualidade encontramos tantos movimentos artísticos desenvolvidos por ONGS, centros comunitários com a finalidade de sensibilizar e promover desde a criança até o adulto de periferia , para através das manifestações artísticas abrir novas redes de possibilidades de elevação da auto-estima incentivando uma postura participativa,cidadã e consciente no grupo social.
Analisando o texto “O ato de criação” percebemos que as sociedades disciplinares que regulam o homem , enquadram , uniformizam, também sofreram transformações.
O que antes era controlado pelo estado, pela igreja, pelas sociedades ditas “secretas”, pela inquisição e até pela escola - que massifica se não levar o aluno para além da simples aquisição de informações, para possibilitar chegar a um estágio denominado de discernimento, que questiona, transcende ao invisível, permite fazer relações, interligações, num aprendizado que poderíamos chamar de transdisciplinar, crescente, múltiplo, não setorizado ou estanque- passou a ser controlado pelos grandes “entes” , aqueles relacionados à comunicação, à informática, à robótica, à instantaneidade, pois reproduzem modelos, informações e até deformações,ditam padrões morais, de comportamento, ideologias, para todo o planeta , de forma ágil, instantânea., de modo a influir não só nas relações de consumo, mas nas relações afetivas, familiares, amorosas.
O controle passou a ser exercido, portanto, pelos meios de comunicação de massa, que ao mostrar toda a multiplicidade terminou por ditar padrões que passam a
ser uniformes, ignorando diferenças culturais, criando-se um padrão global e em última análise um processo de aculturação.
O rico consome, hoje o mesmo produto na Europa, na América ou na Ásia, assim como o habitante das periferias são muito parecidos quer no México, na França ou na África.
O indivíduo também passa a exercer controle, submetendo-se aos processos de “enquadramento” por isto representar “estar inserido” num contexto, ignorando suas peculiaridades .
Percebe-se com isto que a informação passa a ser um instrumento eficaz de controle, quer informação direta, clara, como através de processos aparentemente invisíveis, pois realizados nas entrelinhas, subliminarmente.
Passou-se da sociedade disciplinar (não que elas tenham deixado de existir) de Foucault para a sociedade de controle de Burroughs.
No texto de Paula Sibilia a autora fala nas violências que são cometidas na atual era digital contra os expectadores, na realidade ávidos consumidores de um novo modo de pensar, de agir, de interagir, imposto pela interatividade imperativa da atualidade, conforme falamos acima , que segundo ela ao mesmo tempo em que violenta é prazerosa.
Enquanto Deleuze fala em ato de criação surgido da necessidade, no texto de Paula Sibilia ela conecta arte digital ao prazer.
Fazendo a ligação dos textos, habilmente escolhidos voltamos ao Poder sobre a vida o qual fala do capitalismo em rede que “enaltece as conexões, a movência, a fluidez, produz novas formas de exploração e de exclusão, novas elites e novas misérias e sobretudo uma nova angústia – a do desligamento”, o que foi chamado por Castel de desfiliação e por Rikfin de desconexão.
Muitos se encontram nessa condição, desplugados da rede, não só no sentido tecnológico, mas das redes de vida, cuja pertinência anteriormente dependia de critérios como tradição, direitos de passagem, relações pessoais, critérios religiosos ou até de confiabilidade ou credibilidade e hoje estão afetos ao âmbito comercial, impagáveis pela grande maioria e por isto mesmo limitadores, excludentes.
É como o sonho na idéia de Minelli, ao dizer que o sonho daqueles que sonham diz respeito àqueles que não sonham, pois o sonho é uma terrível vontade de potência, onde uns podem ser vítimas do sonho do outro. Isto é válido para o âmbito das relações comerciais, mas também é cabível em situações pessoais, afetivas, familiares.
No âmbito do capital este sonho de potência traz à tona a potência de vida da multidão, o que envolve produção de laços, invenção de novos desejos, novas crenças, novos modos de vida, de produção, a ponto de hoje ser requerido do trabalhador não o valor de seu trabalho físico, braçal apenas, mas aquilo que é de uma dimensão extra econômica, como Toni Negri diz agora é a alma do trabalhador que é posta a trabalhar.
Vivemos em uma época denominada de pós-modernidade, na qual o processo de reinvenção é inegável , reinvenção do homem - fruto das diversas amálgamas promovidas pela cultura digital conforme Edmond Couchot , o que resultou na “hibridização do sujeito e da máquina, através da interface”- das relações, da sociedade, das formas de produzir, das manifestações da arte.
Este processo de renovação, de busca pressupõe que todos os envolvidos devem estar em constante movimento, numa busca profunda, interligada, na qual todos estejam nos dois pólos de uma relação, alternada e simultaneamente, posicionando-se como “ensinantes e aprendentes” conforme denomina , Carlos A. Barcellos em Ensinantes e aprendentes, construtores necessários da paz, Vecki,2001.
Podemos dizer que isto é válido para todos os âmbitos das relações interpessoais (pedagógico,afetivo,laboral, estético, artístico) e até das comerciais posto que hoje tudo é caracterizado pela fluidez, pelo imediatismo, pelo consumo desenfreado.
Poderíamos estabelecer mais paralelos e destacar outros pontos, mas finalizaremos afirmando que é importante continuar este processo de reinvenção, pois não é possível retornar ao que éramos antes nem refrear o avanço inexorável do tempo, estancar os processos inventivos ou os modos de viver. Urge encontrar um ponto de equilíbrio entre a modernidade pesada/leve, sólida/líquida, condensada/difusa, sistêmica/em rede caracterizadas por Bauman, que não precarize o indivíduo e suas relações e os conduza para um sistema menos paternalista e mais inventivo, que invista na promoção do homem em sua integralidade, proporcionando viver em uma sociedade menos excludente, menos violenta a qual contribua para a promoção da autonomia e da liberdade.


1. TOMAZ, Tadeu. ”Tinha horror a tudo que apequenava...” In: Revista Educação. Deleuze pensa a educação. Ano 2 n 6 a 15

2. DELEUZE, Gilles. “O ato de criação”. Folha de São Paulo, 27 de junho de 1999, Caderno Mais, p.4

3.PELBART,Peter Pál. Poder sobre a vida.Potências de vida. In: Vida capital. Ensaios de biopolítica. São Paulo:Iluminuras,2003

4.SIBILLA, Paula. O interativo como imperativos: os corpos suavemente ansiosos da arte digital. http://www.intermidias.com/ Acessado em 13 de fevereiro de 2008

5.Farina, Cynthia.” Formação Estética e Estética da Formação.”In FRITZEN,Aldon e MOREIRA,Janine (orgs). Educação e Arte. As linguagens artísticas na formação humana. Campinas, SP: Papirus,2008

Nenhum comentário: